INSULTO A RAZÃO
Não sou poeta, apenas insano
Perdão gênios se os profano.
Do acorde da poesia, acordei humano.
Destile o néctar sem cor
Colorido racional sem sabor.
Pensar sem sonhar
É a busca casta da dor.
A rima expulsa com repulsa a razão
Degusta sem pudores, sabores da emoção!
O incômodo zumbir do mosquito
É suave no verso transcrito
Parece despretensão
É recheada de inspiração.
Arte de mão feminina
Talento desta linda menina
Cecília é de fases por certo
No incerto voo do inseto
Traça letras do alfabeto!
É inocente a relação
Tragédia é argumento...
Sugestão
De cada mês extrai melodia
Faz do ano pura poesia.
Bilac parnasia com esmero
Da flor do Lácio,
Colhe a joia que quero
Sem sequer me conhecer
Muito antes d’eu nascer
O sacrifício de Plutão
Fez minha história anteceder!
Outrora saudade demais
Da aurora da minha vida
Dribla o tempo
Deixa a velhice aturdida
Quem não voltou a ser criança
Quando Abreu trouxe a lembrança
Da sua infância querida...
Eis para o adulto alento
Foge por um momento
E mesmo sem saber
Oito anos parece ter.
Grita e anuncia a toda nação:
“Meninos, eu vi!”
Pena que o guerreiro tupi
Padece sem honra e sem glória
Calado...
Morre também, o Timbira da história
Dias d’outrora, n’outro Dias plagiado
Ouve agora o insulto fraudado
“Juca Pirama foi assassinado!”
Na aridez desértica, não é o sol que queima
Tão pouco a sede que a seca teima
É um pássaro que gorjeia inspirado
É verso de Camões reencarnado
É mágico encanto: Patativa do Assaré!
Da mão calejada no casebre de sapé
Versos simples ecoam no sertão
Alegoria de pescador é político ladrão.
A crueldade da ganancia
Sepulta o lavrador na ignorância
A cova nem rasa nem funda
Abriga o pouco defunto
Que é motivo de muito assunto
Mas este zumbi social
Morre e vive na trama de Cabral.
É erosão no latifúndio moral
Como pode sem terra morrer Severino
Neste país continental.
E o mais carioca dos mineiros
Cede a pedra a este pedreiro
Agora é ele a pedra admirando o mar
É o poeta encantado, poesia a inspirar.
Ele que tanto amou o luar
Apenas parou de respirar...
É visão que homenageia
Quem pela areia passeia.
Drumont sentado, indaga sem fé:
E agora José?
Vinicius transforma água em vinho
Mas da fonte não bebo sozinho
Mesmo sendo chama, não morra:
Eterna perdure
E a poesia infinita seja:
Para sempre dure.
Redentora arca poética
Em minhas águas navega
Da lógica capital me cega.
Do cruel diluvio da ignorância
Salva vida e esperança
Alma de poeta...
Imaginação de criança!
A poesia é sanha insana
Saneia com sonhos a inocência
De tola subserviência
Refém e escrava do real...
Tola a consciência.
O véu lúcido da razão
É a mais torpe escuridão
Sentencia:
Morte a imaginação!
Mas com o sol da poesia
Renasce o lúdico a cada dia
E desta mágica, a vida é magia:
Morrer... É não viver fantasia!
Prof. Gílberte
Nenhum comentário:
Postar um comentário