O SEMEADOR DE ESPERANÇA
Autor: Professor Neemias
Dizem que um homem saía todos os dias, às seis horas, para ir
ao trabalho. Ele caminhava cerca de quinhentos metros pela Rua das Flores, antes
de pegar uma lotação. O homem não conseguia entender como uma rua tão mal
cuidada pudesse ter nome de flores. Sem asfalto, com vários buracos e, para
piorar, ao passar em frente ao córrego que margeava a rua, tinha que prender a
respiração, pois tamanho era o mau cheiro. Para seu desgosto, retornava pelo
mesmo caminho às dezoito horas.
Para piorar, todos
os dias, na ida e volta, encontrava um senhor de cabelos brancos e roupas velhas.
No período da manhã, o velho contemplava aquela paisagem que o homem imaginava
ser um lixão gigantesco, dado o mau cheiro. Na volta ele o encontrava com vários
sacos de lixo na mão. O velho, toda vez o
cumprimentava com um sorriso, mas o homem, revoltado com a situação, não
respondia e resmungava para si mesmo: quando eu ficar velho, não quero ser
igual a este porco, que, ao invés de dormir, fica poluindo cada vez mais esse lixão!
Com o passar dos dias, a montanha de lixo a margem do rio aumentava
e o velho continuava lá firme e forte. Muito intrigado o homem começava a matutar o
que ocorria. “Acho que esse velho deve ganhar algum trocado jogando lixo dos
vizinhos no rio, será que não percebe que esse local não suporta mais lixo e
que já esta chegando à rua?”.
Um dia, não contendo mais a curiosidade e a indignação,
aproximou do velho pronto para dizer a ele tudo o que sabia sobre crime ambiental.
Antes que pudesse dizer algo, o velho o cumprimentou com um largo sorriso e
começou a falar com tanto entusiasmo que o homem não teve alternativa a não ser
ouvir:
- Eu, quando era jovem, pescava neste córrego, caçava e
brincava com meus amigos. Foi aqui que passei os melhores anos de minha vida –
disse com uma voz suave e triste - Cresci, e como muitos, esqueci minhas
origens – sua voz soava com emoção e olhos marejados. Tornei-me mestre de obras. Construí várias casas
ao lado desse córrego, como na época ainda não existia saneando básico, o esgoto
das casas eu desviei para este córrego.
Esse foi o legado que deixei para meu filho – disse tristemente. Mas, aquilo
ali, é o que quero deixar aos meus netos – terminou com um largo sorriso de
esperança.
O homem olhou para onde o velho apontava e viu que ao longo
do córrego, não existia mais lixo, a água estava transparente e dava até para
ver peixinhos nadando freneticamente. Algumas borboletas pousavam em algumas
plantas e árvores que cresciam a margem do córrego.
Envergonhado pelo
seu pré-conceito e pela falta de educação, o homem abraçou o velho, pedindo,
repetidamente, desculpas. E, por fim, disse com voz emocionada:
- Parei para lhe dar uma lição de moral, mas acabei
recebendo em troca uma lição de vida.
Dizem
que agora, o homem acorda todos os dias pensando no futuro que poderá deixar
aos meus filhos.